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Sonetos 8 e 66 de Shakespeare

Traduções

Sonetos 8 e 66 de Shakespeare

joana meirim

Sonnet 8, William Shakespeare

 

Music to hear, why hear’st thou music sadly?

Sweets with sweets war not, joy delights in joy.

Why lov’st thou that which thou receiv’st not gladly,

Or else receiv’st with pleasure thine annoy?

If the true concord of well-tuned sounds,

By unions married, do offend thine ear,

They do but sweetly chide thee, who confounds

In singleness the parts that thou shouldst bear.

Mark how one string, sweet husband to another,

Strikes each in each by mutual ordering,

Resembling sire and child and happy mother,

Who all in one, one pleasing note do sing;

  Whose speechless song, being many, seeming one,

  Sings this to thee: “Thou single wilt prove none.”

Soneto 8, tradução de Ana Luísa Amaral

 

Porque te é triste a música, ó música de ouvir?

O doce é ameno ao doce, alegre é a alegria.

Porque amas, pois, aquilo que não te rejubila

E, em vez, sentes prazer no que não te dá júbilo?

Se a perfeita união dos sons em harmonia

Ligados, como em núpcias, te ofendem o ouvido,

É porque eles censuram, doces, teu desacordo

Ao teimares em tocar a sós a melodia.

Nota como uma corda à outra se une, doce,

As duas se tangendo, em mútua simetria,

Como o pai e o filho e a feliz mãe, um só,

Todos só num, entoando, em perfeição de som,

    Um canto sem palavras, que, sendo vário, é um,

    E assim te canta a ti: “Tu sozinho és nenhum.”

 

 

Sonnet 66, William Shakespeare

 

Tir'd with all these, for restful death I cry,

As, to behold desert a beggar born,

And needy nothing trimm'd in jollity,

And purest faith unhappily forsworn,

And guilded honour shamefully misplaced,

And maiden virtue rudely strumpeted,

And right perfection wrongfully disgraced,

And strength by limping sway disabled,

And art made tongue-tied by authority,

And folly (doctor-like) controlling skill,

And simple truth miscall'd simplicity,

And captive good attending captain ill:

          Tired with all these, from these would I be gone,

          Save that, to die, I leave my love alone.

 

 

William Shakespeare, Shakespeare’s Sonnets, ed. Katherine Duncan-Jones. London: Arden Shakespeare, 2010.

Soneto 66, tradução de Ana Luísa Amaral

 

Anseio a suave morte, de tudo tão cansado:

Dos que, tendo valor, no ermo são mendigos,

Dos que carecem nada, mas se trajam de ricos,

Dos mais sagrados votos tristemente quebrados,

Das altas honrarias falsas e imerecidas,

Da virgem virtuosa em meretriz volvida,

Da justa perfeição vilmente injuriada,

Do forte enfraquecido por frouxas influências,

Do génio amordaçado pelo poder regente,

Dos tontos que do engenho são doutos governantes,

Da verdade mais simples simplória ser chamada,

Do bem feito cativo servindo o mal reinante.

     De tudo tão cansado, mais valia morrer,

     Não fora, se morresse, deixar o meu amor.

 

 

Ana Luísa Amaral (1956). Autora de mais de três dezenas de livros, quer de poesia, quer de teatro, quer de ficção, quer infantis. As suas obras mais recentes em Portugal são What’s in a Name (poesia, Assírio & Alvim, 2017) e Arder a Palavra e Outros Incêndios (ensaio, Relógio D’Água, 2017, vencedor do Prémio Jacinto de Prado Coelho). Os seus livros estão traduzidos e editados em países como Inglaterra, Brasil, França, Espanha, Suécia, Itália, Holanda, Colômbia, Venezuela, México ou Estados Unidos da América, sendo que o seu mais recente livro no estrangeiro é What’s in a Name (trad. Margaret Jull Costa, New York, New Directions, 2019). Traduziu diferentes autores, como Emily Dickinson, William Shakespeare ou John Updike. Obteve várias distinções e prémios, como a Medaille de la Ville de Paris, a Medalha de Ouro da Câmara Municipal do Porto, por serviços à Literatura, ou o Prémio Literário Correntes d’Escritas, o Premio di Poesia Giuseppe Acerbi, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, o Premio Internazionale Fondazione Roma,  ou o Prémio PEN, de Ficção. Tem, com Luís Caetano, um programa semanal na Antena 2 sobre poesia, O som que os versos fazem ao abrir. É professora aposentada da Faculdade de Letras do Porto e membro da Direcção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, no âmbito do qual coordena o grupo internacional de pesquisa Intersexualidades.