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Poemas de Pooja Nansi

Singapura

Poemas de Pooja Nansi

Maria S. Mendes

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Pooja Nansi (1981) é uma singapurense de primeira geração com dois livros publicados. Os seus poemas deixam transparecer a influência de “canções de um antigo Bollywood, da minha família e de música rap”. A poesia de Pooja Nansi revela a melancolia do exílio, visível nas suas canções de separação. Os seus poemas troçam da cultura pop, da ideia de gostarmos da representação de alguém e de nos perdermos nesses sonhos. A poetisa autorizou-nos a publicar “Songs of Exile”, “Amitabh Bachan” e “Geeta Cinema”.


Songs of Exile, Pooja Nansi

 

These are the songs of parting. The songs of exile. Self imposed, or otherwise. 
The sound of a pen scratching as my father signs a document which says “Renunciation of Indian nationality is irrevocable and due care must be exercised in making an application for this purpose. A declaration  must be made that the renunciation is voluntary and that the applicant understands its consequences.”. These are the songs of parting. A line that says “After renunciation, you will be given a letter stating that your Indian passport has been cancelled and that you are no longer an Indian citizen”. These are the songs of exile. Self imposed or otherwise. This is how you are expected to dust the earth off you, stop looking back and make yourself (some say) a better home on foreign soil. This is how you grow up singing the songs of one land and are then supposed to forget the notes . These are the soft songs of parting,  the winds different, the smells different, but the never ebbing longing always a constant flow. This is when you are always home. This is when you are never home. This is how borders of love and loyalty are expected to shift, as though your heart understands this redrawn cartography, as though country is merely movements of tectonic plates.  As though country is a thing, not a feeling. As though my country can never be two places, six people, seven things. But these are the rules they say, these are the rules of exile, the songs of parting that haunt and some things we cannot translate.


Canções do Exílio, traduções de Sónia Baptista

 

Estas são as canções da despedida. As canções do exílio. Auto-imposto ou pelo contrário. O som arranhado de uma caneta enquanto o meu pai assina um documento que diz: “A renúncia da nacionalidade indiana é irrevogável e deve-se ter o devido cuidado ao fazer uma solicitação para esse fim. É preciso declarar que a renúncia é voluntária e que o candidato compreende as suas consequências”. Estas são as canções da despedida. Uma linha que diz "Após a renúncia, receberá uma carta a informar que o seu passaporte indiano foi cancelado e que não é mais um cidadão indiano". Estas são as canções do exílio. Auto-imposto ou pelo contrário. É assim que é esperado que sacudas de ti a terra, que pares de olhar para trás e faças para ti (dizem alguns) um lar mais favorável em solo estrangeiro. É assim que tu cresces a cantar as canções de um país das quais, depois, é suposto esqueceres as notas. Estas são as canções suaves da despedida, os ventos são diferentes, os cheiros são diferentes, mas a saudade, um fluxo sempre constante, nunca se esvai. É quando estás sempre em casa. É quando nunca estás em casa. É assim que se espera que as fronteiras de amor e lealdade mudem, como se o teu coração entendesse essa cartografia redesenhada, como se um país fosse só movimentos de placas tectónicas. Como se um país fosse uma coisa, não um sentimento. Como se o meu país nunca pudesse ser dois lugares, seis pessoas, sete coisas. Mas estas são as regras, dizem, estas são as regras do exílio, as canções de despedida que assombram e algumas coisas que não podemos traduzir.

 


Amitabh Bachan

 

I want to marry him I whisper into the TV as a three year old because who else can open a car door handle like this tall swaggalicious man who else chews on a toothpick like a hot first kiss and it’s hard to find words to articulate the whirpool in my belly, his eyes that mourn but turn mourning into something sexy. Whose voice is chocolate bubbling baritone, he strolls slow while other men are falling in the middle of curry western movie fight scenes and oh my god is he puffing at that cigarette or trying to create an orgasm this man this six foot two pillar of desire and the bad guy says “now you’re in trouble you rogue, we’ve been looking for you” 
But he? He tilts his head back, exhales smoke and says “you’ve been looking all over, while I was right here waiting.” 

And when he goes looking for the bad guy he stands like a rock in the middle of a hurricane and spits Agar apni maa ka doodh piya hai to saamne aa. Dammmmn son you’re going to make a girl unable to walk straight your smirk hits hard as a double vodka and gin cocktail. You so beautiful on a motorcycle, hard and lean on a horse. You dancing but only moving one muscle, you resplendent in remorse. You drenched to curve of chest in rainfall, you gun cocked with half smile. You full of anger and tenderness and sex, you aviator sunglasses, wide collared, bell bottomed styled. 

God help brown girls like me everywhere growing up watching you on screens. 

God help my brown girl’s hunger and my brown girl’s sweltering dreams. 


Amitabh Bachan

  

Quero casar com ele sussurro para a televisão aos três anos de idade porque quem mais pode abrir a porta de um carro como este alto e arrogantodelicioso homem quem mais pode morder um palito como se de um primeiro beijo escaldante se tratasse e é difícil encontrar palavras para articular o redemoinho na minha barriga, os seus olhos enlutados, mas mas transformam o luto em algo sensual. Cuja voz é um barítono borbulhante de chocolate, ele caminha devagar entre homens que caiem nas cenas de luta de filmes de western curry e ó meu deus estará ele a fumar aquele cigarro ou a tentar dar um orgasmo este homem este pilar de desejo de um metro e oitenta o mau da fita diz: "agora estás em apuros, patife, andávamos à tua procura" Mas ele? Ele inclina a cabeça para trás, exala fumo e diz " andavam à minha procura por todo lado, enquanto eu estava aqui à espera". E quando vai em busca do mau da fita ele mantém-se como uma rocha no meio de um furacão e lança Agar apni maa ka doodh piya hai to saamne aa. Raaaaaios moço vais deixar uma rapariga incapaz de andar em linha reta o teu sorriso bate como um cocktail duplo de gin e vodka. Tu tão belo numa motocicleta, rijo e magro num cavalo. Tu a dançar, mas apenas a mover um músculo, tu resplandecente de remorso. Tu, na chuva, encharcado até à curva do teu peito, tu armado com um meio sorriso. Tu cheio de raiva e ternura e sexo, tu artilhado de óculos de sol de aviador, colarinho largo, boca de sino. Deus valha todas as raparigas trigueiras como eu em toda a parte crescendo vendo-te nos ecrãs. Deus valha à minha fome de rapariga trigueira e os meus escaldantes sonhos de rapariga trigueira.

 


Geeta Cinema

 

Ten steps away from Kum Kum Terrace is the Geeta Cinema. Where you can watch B grade movie reruns and buy tickets in black from the men outside chanting inflated prices under their breath. I write letters to my grandfather and label the envelope 

2 Kum Kum Terrace, Geeta Cinema Compound. A midnight movie adventure is only 5 minutes away. Where you can sit on the wooden slated seat, eat channa, drink Limca and lose yourself in somebody else’s dream. Where grandmothers live forever and never lose their memory, where the bad guys find their comeuppance and the tall dark hero emerges victorious where you are the heroine, her spangled dupatta reflecting off her long dark hair, where a song seals a romance and your long lost father is a benevelont billionaire. Where rain drenches you but your make up never runs, where alcohol is a river that never gets you drunk. Where everyone always wants to dance and always knows the steps where nobody has heard of a smartphone or E- books or a multiplex. 

 

Pooja Nansi, Ten Poets, Ten Cities, edited by Paul Hetherington & Shane Strange. Singapore: Recent Work Press, 2017. 

 


Cinema Geeta

 

A dez passos do Kum Kum Terrace está o Cinema Geeta. Onde podemos assistir a reprises de filmes de série B e comprar aos homens lá fora sussurrando cantilenas bilhetes a preços inflacionados. Eu escrevo cartas para o meu avô e endereço o envelope 2 Kum Kum Terrace, Complexo de Cinema Geeta. A aventura de um filme da sessão da meia-noite fica a apenas 5 minutos de distância. Onde nos podemos sentar no banco ripado de madeira, comer channa, beber Limca e perdermo-nos no sonho de outra pessoa. Onde as avós vivem para sempre e nunca perdem a memória, onde os bandidos têm os seus castigos e o herói alto e moreno emerge vitorioso onde tu és a heroína, a sua dupatta reluzente reflectindo nos seus longos cabelos escuros, onde uma música sela um romance e o teu pai há tanto tempo perdido é um bilionário benevolente. Onde a chuva te encharca, mas a tua maquilhagem nunca borra, onde o álcool é um rio que nunca te embebeda. Onde toda a gente quer sempre dançar e sabe sempre os passos onde ninguém ouviu falar de um smartphone ou de E-books ou de um multiplex.

 


Pooja Nansi é autora de dois livros de poesia, Stiletto Scars (2007) e Love is an Empty Barstool  (2014). O seu trabalho de performance inclui You Are Here, que explora os temas da emigração através do relato de histórias pessoais. Também escreveu e representou Thick Beats for Good Girls, que estreou em Abril de 2018, no qual explorou as intersecções entre feminismo, identidade e Hip Hop. É a co-fundadora de “Other Tongues”, um festival literário de vozes minoritárias em Singapura. Ensina escrita criativa na Nanyang Technological University e é a actual directora do Singapore Writers Festival. 

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Sónia Baptista é artista e mestra. No conjunto da sua obra, explora e experimenta com as linguagens da Dança, Teatro,Literatura, Música e Vídeo. Com tudo faz poemas dramatúrgicos, espectáculos e performances. Tem seis livros publicados. Traduz.